sexta-feira, 8 de maio de 2015

Como estudei e passei em um concurso público

Eu nunca tinha pensado em prestar um concurso público, até eu descobrir o tumor. E foi o melhor caminho que eu poderia ter seguido profissionalmente!

Antes, eu tinha tudo planejado: entrei numa faculdade boa de engenharia, consegui fazer o curso de Engenharia de Produção e me preparei bastante para passar nas entrevistas da área de consultoria estratégica. Mas eu não estava mais conseguindo escrever, pois sou destra e o tumor afetou justamente a coordenação do lado direito do meu corpo. 

Não me sentia capaz de competir em pé de igualdade com meus amigos, principalmente nas entrevistas de emprego, pois lidava com uma deficiência importante. Não vou dizer que eu não conseguia escrever com a mão esquerda, pois aprendi a ser canhota e, como fiz aulas de piano, flauta transversal e violoncelo desde pequena, minha mão esquerda é bem "espertinha" rs. Mas não é uma coisa natural pra mim. Preciso pensar em como escrever, além de pensar no que deve ser escrito. Então é um processo mais lento.

Foi aí que comecei a considerar prestar um concurso público. 

Fiz uma análise:
- a estabilidade que um concursado possui me tranquilizava demais, já que eu não podia, nem queria, depender da iniciativa privada oscilante e do INSS;
- existem carreiras muito boas na área pública, com empregos que pagam bem, como os da área fiscal;
- o que vale no concurso é o quanto você sabe, não outras características, que influenciam nos processos seletivos da iniciativa privada;
- eu não tenho nenhuma perda cognitiva e a faculdade que fiz me ensinou como estudar, então poderia usar isso para me preparar para um concurso;
- a competição na área pública é bem menor, se não inexistente, do que na área privada. Isso pra mim foi um fator determinante.

Só conseguia pensar em pontos positivos! Então comecei a me preparar para o concurso de Analista Tributário da Receita Federal de 2012, sem muita esperança pois era o primeiro concurso que eu faria e não sabia como seria. Se seria aceita como PNE (Portador de Necessidades Especiais), se iria bem, como iria me virar escrevendo e preenchendo a ficha de respostas com a mão esquerda... era um mundo novo pra mim.

Comecei minha preparação para esse concurso em maio de 2012. O primeiro grande desafio foi em como fazer um cursinho para concursos, pois na época estava me recuperando da segunda cirurgia e não podia sair de casa. Procurei na Internet e encontrei uma escola chamada "Federal Concursos" que transmitia as aulas ao vivo pela web. Matriculei-me em um curso geral para a área fiscal, pois o edital para esse concurso ainda não havia saído. 

Nunca tive uma planilha de estudos formal. Dava prioridade para as matérias de direito, pois fiz engenharia de produção e tenho uma boa base de matemática, estatística e contabilidade. Minha estratégia era a seguinte: quando estava mais descansada, focava em estudar as matérias de direito (pois não sabia quase nada desse assunto) e deixava para estudar depois as matérias que tinha mais afinidade, como contabilidade por exemplo. 

Usei também uma estratégia de quando eu estava fazendo cursinho pré-vestibular. De manhã assistia às aulas e de tarde/noite, revisava as matérias dadas e fazia os exercícios propostos. Como passei em todos os vestibulares das principais universidades públicas de São Paulo, resolvi ver se isso também funcionava para os concursos.

Enquanto não saía o edital para o meu concurso, baseei-me nos editais anteriores para saber o que deveria estudar. Com uma caneta marca-texto, marcava os assuntos que já tinham sido dados no cursinho e que já haviam sido estudados para ter um controle.

Basicamente o que fazia era ver um assunto na aula do cursinho, fazer uma leitura do respectivo capítulo da apostila e fazer muitos exercícios sobre o tema. Uma das coisas que mais me ajudou na hora dos estudos foi fazer e analisar exercícios comentados. Na minha opinião, eles são indispensáveis! Existem vários livros focados em bancas diferentes e, ao estudá-los, você aprende como cada tipo de banca pergunta uma matéria específica e como você deve raciocinar para responder corretamente.

Outra coisa que pra mim foi indispensável foi fazer um cursinho preparatório para concursos. Foi no curso que fiquei sabendo quais livros deveria comprar para estudar, os assuntos que mais caem nas provas e vários macetes e métodos para decorar algumas coisas (sim, algumas coisas é pura decoreba). Foi no curso também que aprendi como fazer prova da ESAF por exemplo. Pasmem, mas uma mesma questão pode ter um resultado diferente se corrigida pela ESAF ou pela FCC.

Estudava umas 10 horas por dia, entre assistir às aulas, revisar a matéria e fazer exercícios. Durante o fim de semana, estudava um pouco menos... umas 8 horas por dia. Somente durante o ano novo de 2013 que parei 10 dias e fui pra praia desestressar! rs

Eu me inscrevi como PNE no concurso pra receita, pedindo um tempo a mais para fazer a prova dada a minha dificuldade com a escrita. Estava com medo de não ser aceita como PNE, o que inviabilizaria totalmente eu conseguir competir com pessoas "normais". Mas tudo deu certo e fui aceita! A ESAF me deu uma hora a mais em cada prova, que eu usei principalmente para preencher meu cartão de respostas. Consegui passar na primeira fase desse concurso com uma pontuação alta! A partir daí, vi que a minha estratégia de estudos estava dando certo e decidi focar no concurso para Agente Fiscal de Rendas do Estado de São Paulo. Nem fiz a segunda fase do concurso para a receita por vários motivos, mas principalmente porque ainda não tinha diploma da faculdade (depois de ver como a posse demora, acho que isso não seria um problema... mas na época não quis arriscar) e realmente não queria sair do estado de SP (já que aqui estão todos os meus médicos e quase toda a minha família). Usei o concurso da receita como teste, para saber como me sairia. 

Assim que saiu o Edital para o concurso do Estado de SP, me foquei em estudar as matérias que possuíam peso maior nas provas e mudei meu curso na Federal Concursos para um focado para esse concurso. Além do curso regular, também me matriculei no curso de exercícios. Consegui novamente fazer minha inscrição como PNE e fazer as provas com um pouco mais de tempo. Após passar no concurso, fiz uma perícia para confirmar minha situação de PNE e fui aceita sem maiores problemas.

Hoje estou de licença saúde, mas não vejo a hora de voltar a trabalhar! Minha meta era não precisar tirar outra licença, mas minha visão ainda não está estável o suficiente e alguns dias fico mal por causa dos efeitos colaterais da quimioterapia que estou fazendo. Mas daqui 2 ou 3 meses me recupero o bastante para voltar à ativa, se Deus quiser! Acho que voltar à rotina de trabalho vai me ajudar na recuperação total! =) Enquanto isso não acontece, estou focada na minha recuperação. Fazendo muitos exercícios de equilíbrio, comendo direitinho e treinando minha coordenação para ficar boa o mais rápido possível. 

Passar em um concurso público foi bem mais complicado pra mim do que seria normalmente. Mas se eu consegui, você também consegue! É só se dedicar!

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